sábado, 24 de novembro de 2012

Plantas e extratos vegetais na indústria alimentícia

Sinônimo de naturais, as plantas e extratos vegetais estão cada vez mais sendo integrados nas formulações alimentícias, podendo ser encontrados nos mais variados tipos de produtos colocados à disposição do mercado.

Plantas e extratos

Nos grandes mercados consumidores mundiais pode-se encontrar com frequência os mais diversos produtos possíveis com um toque vegetal. Bebidas carbonatadas formuladas com especiarias e sucos de frutas (limão/gengibre, hortelã-pimenta ou mentha piperita, cereja/zimbro, etc.), águas minerais vitaminadas com vitamina C natural (e extrato de acerola), chocolate com óleo essencial de laranja e extrato de tília, infusões com rooibos (Aspalathus linearis Burman f.), gélulas ricas em isoflavonas, em carotenos, ketchup com licopeno, enfim as alternativas não faltam!

As plantas e seus extratos estão em todo lugar, inclusive em produtos lácteos, com o ginko biloba e a verbena. Entre a alimentação natural e o alimento saudável, entre os remédios ancestrais e o modernismo, os produtos naturais à base de plantas e ervas suscitam grande interesse por parte dos consumidores europeus e norte-americanos e o seu consumo aumenta, particularmente, no âmbito dos complementos alimentares.

Oferecer extratos purificados é um meio de agregar mais valor a determinados produtos.

Mas, o que são os extratos?

Extratos são preparações concentradas de diversas consistências possíveis obtidas a partir de matérias-primas vegetais secas, que passaram ou não por tratamento prévio (inativação enzimática, moagem, etc.) e preparadas por processos envolvendo um solvente. Isso implica basicamente em duas etapas no processo de fabricação: a separação dos compostos específicos de um meio complexo (a droga, ou parte da planta utilizada, como raiz, caule, folha) com a utilização de um solvente; e a concentração, por eliminação mais ou menos completa dos solventes.

É possível definir tradicionalmente um extrato pela relação entre a quantidade de droga tratada e a quantidade de extrato obtida. O ponto chave de toda a polêmica é onde fica a fronteira entre um extrato purificado, a vocação terapêutica (um ativo) e um extrato incorporado em algum alimento ou complemento alimentar. Um exemplo é a uva e os OPC (oligômeros procianídicos contidos na casca e caroços das uvas). Esta classe de moléculas possui propriedades anticancerígenas e antioxidantes, reconhecidas e amplamente descritas na literatura científica e diretamente implicadas no famoso French Paradox. 

Essas OPC são extratos de bagaços da uva e são também corantes naturais e auxiliares tecnológicos. Trata-se simplesmente de uma subclasse dos polifenóis da uva, ou seja, os flavonoides, que são compostos por seis famílias de moléculas, as flavononas, as flavonas, os flavonóis, os isoflavonoides, as antocianinas e as flavanas.

Outro exemplo é o abacaxi, vegetal alimentar por excelência, cujas fibras ou extratos em pó são utilizados em produtos posicionados para emagrecimento. Foram identificadas moléculas anticancerígenas no abacaxi sem que, para tanto, o mesmo passasse a pertencer ao monopólio dos remédios. Esses dois exemplos mostram toda a ambiguidade entre as antocianinas, identificadas como matérias corantes, e os flavonoides, estudados e utilizados por suas atividades antioxidantes. 

Da planta seca e moída até as moléculas puras existe uma verdadeira fossa abissal: atividade, eventual toxicidade, etc.

Os extratos são substâncias técnicas definidas internamente pelas empresas ou pela farmacopéia. Alguns têm vocações terapêuticas fortes e são verdadeiros remédios. O abismo que separa os dois conceitos é, basicamente, o mesmo que separa a indústria farmacêutica da indústria alimentícia.

Em 1958, o U. S. National Cancer Institute (NCI) iniciou um programa para estudar 35.000 espécies de plantas, no intuito de descobrir quais tinham uma atividade anticancerígena. Já em 1963, observou-se, cientificamente, que um extrato da casca de uma espécie de teixo, árvore ou arbusto da família das taxáceas, apresentava esse tipo de atividade. A droga derivada, o paclitaxel (Taxol®), um composto semi sintético, demorou cerca de 30 anos para receber a aprovação da FDA. 

Seja como medicamento com a devida concentração para ter-se um efeito terapêutico, seja em uma formulação alimentícia na qual ele traz um certo valor agregado sob a forma de uma alegação, as doses terapêuticas necessárias estão longe de ser atingidas. As atividades farmacológicas de outros extratos conhecidos e amplamente usados, como o gingko biloba ou os triterpenos da centela asiática, também são amplamente demonstrados; porém existem centenas de produtos e suplementos utilizando esses extratos, alegando seus benefícios, porém incorporados nas formulações em quantidade, novamente, longe de serem terapêuticas.

Os extratos e seus métodos de obtenção foram, antes de tudo, desenvolvidos e estandardizados pela indústria farmacêutica, a única realmente capaz de aproveitá-los. A indústria alimentícia, sob o impulso da geração saúde, começou a procurar esses ingredientes saudáveis e com o apoio dos departamentos de marketing valorizou a atividade dos mesmos.

O marketing permitiu uma aproximação maior entre tipos de extratos e atividades. Mas, no fundo, será que o problema todo reside na concentração? Isoflavonas a 10% são autorizadas na indústria alimentícia; isoflavonas a 40% são reservadas à indústria farmacêutica?

Não existe nenhuma definição clara dos extratos especificamente destinados ao setor alimentício, nem no que se refere Ginko biloba à titulação em princípios ativos, nem do ponto de vista tecnológico. 

Na Europa, os extratos para a indústria alimentícia devem ter um perfil cromatográfico semelhante àquele da planta; em outras palavras, a extração não pode ser seletiva, mas o próprio termo seletivo não está claramente definido.

De um modo geral, utiliza-se na indústria alimentícia extratos nos quais todas as moléculas são extraídas na sua totalidade, sem que nenhuma seja especificamente isolada. O extrato alimentício não é e não pode ser, em hipótese alguma, um princípio ativo, ou seja, um composto com efeito terapêutico e que corresponde a uma molécula ou um grupo de moléculas com atividade farmacológica testada. Outro ponto muitas vezes esquecido é a toxicidade dos extratos; sua inocuidade deve ser comprovada.

Texto completo e bem mais amplo no link:
http://www.insumos.com.br/aditivos_e_ingredientes/materias/429.pdf

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